Kodomo no Omocha
- Catarina
- 17 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 9 de mar. de 2021
Quantas vezes é preciso ser-se chamado de demónio para se começar a comportar como um?

Nome: Kodomo no Omocha | Kodocha: Sana's Stage
Autor: Obana Miho
Ano: 1994-1998
Estado: Completa
Volumes: 10 Volumes (36 Capítulos)
Género: Shoujo, Drama, Romance, Slice of Life, Comédia, Escolar
Sinopse
Kurata Sana é uma atriz infantil que atualmente enfrenta vários problemas na escola com a sua turma, principalmente com o colega de turma, Hayama Akito. A personalidade extrovertida e amigável de Sana faz com que tente resolver os problemas ao seu redor, incluindo o sombrio Akito. Nesta tentativa de Sana resolver a situação da turma, acabam por se aproximar e é o começo de uma grande amizade que vai enfrentar grandes dificuldades.
Crítica
Antes de começar a minha análise, é preciso explicar que quando comecei a ler este manga estava com as expectativas baixas. Como vi o anime antes de começar a minha leitura, já conhecia a história e esperava uma obra ingénua e banal. Contudo a narrativa revelou-se ser totalmente diferente.
A história começa com a apresentação de uma turma problemática em que os rapazes são indisciplinados e não deixam as aulas decorrer com normalidade, deixando as raparigas revoltadas por não conseguirem aprender nada. A nossa protagonista, Kurata Sana, que é uma famosa atriz infantil, decide que é altura de acabar com o problema e confronta o líder dos rapazes, Hayama Akito.
As primeiras impressões que o leitor tem é que será mais uma comédia romântica, mas o plot transforma-se ao longo dos capítulos explorando temas como famílias disfuncionais, bullying, suicídio, entre outros.
Um dos aspetos positivos, que se evidencia para quem assistiu o anime em primeiro lugar, é o facto da ação principal não se perder com demasiadas ações secundárias que não contribuem para o desenrolar da história.
Outro aspeto positivo e um dos focos principais desta obra são as suas personagens. Mais uma vez, escolhi uma obra que acompanha o quotidiano de crianças: a visão delas sobre o mundo e a sociedade; a forma como lidam com os seus problemas; as batalhas interiores que têm para descobrir quem são; assim como o modo como lidam com os problemas que vão surgindo à medida que crescem.
Na minha opinião, a autora Obana Miho fez um excelente trabalho neste campo. Ela consegue transmitir perfeitamente os sentimentos destas crianças e fazer-nos recuar ao tempo em que nós tínhamos aquela idade. Recordamos as nossas próprias inseguranças daquela época e começamos a identificar-nos com as personagens. Visto que a história acompanha um período aproximadamente de 5 anos, podemos presenciar o amadurecimento destas personagens e concluir que foram bem construídas.
A autora concluiu a história de maneira simples, mas bem conseguida. Na minha opinião, não valia a pena fazê-lo de outra forma. Se o tivesse feito, o leitor ficaria com o sentimento de “Outra vez?”, como se tivessem a enredar ou adiar o desenlace. Contrariamente, os criadores do anime fizeram-no e fiquei com esse sentimento de “Outra vez?” após ver o final do anime.
Anos depois do fim de Kodomo no Omocha saiu um crossover com o manga Honey Bitter, chamado “Deep Clear”. Com apenas 3 capítulos acompanha os protagonistas, Sana e Akito, na sua vida adulta e enfrentam um novo dilema na sua vida.
Sussurro do Coração
Kodomo no Omocha é uma obra que todos os pais deveriam ler para entender o que vai na mente das suas crias.
Numa sociedade cada vez mais rodeada de problemas como o divórcio, bullying, pressão social, etc, onde é que ficam as crianças no meio disto tudo?
À medida que vamos crescendo e amadurecendo vamos ultrapassando os obstáculos que se cruzam no nosso caminho, mas por vezes esquecemos-nos de como é ser criança. E, que a maneira como crescemos e os nossos pais nos educaram, vai moldar os adultos que nos tornamos. Por isso, quando tomamos a decisão de ser pais temos de assumir todas as responsabilidades que essa decisão acarreta.
Uma criança chega ao mundo sem qualquer filtro ou mente formatada, isentas de preconceitos ou estereótipos. Tudo isso vai lhe ser incutido pelos valores e mensagens que os pais e familiares lhe vão transmitindo. Porque desde bebé que nós somos uma esponja que absorve tudo à nossa volta, através de todas as experiências que vamos vivenciando.
Este manga relembra-nos disso através dos seus protagonistas, Sana e Akito, ambos com uma background pesado para crianças com apenas 11 anos. Sana foi abandonada à nascença num banco de jardim, enquanto Akito perdeu a mãe devido a complicações durante o parto. A forma como estas crianças interiorizaram esta experiência é marcante, pois elas acabam por se culpabilizar sem terem culpa nenhuma do que lhes aconteceu. E isto acontece devido ao egoísmo dos adultos que os rodeiam.
Há uma frase dita por Sana sobre Akito que me marcou até hoje: “Quantas vezes é preciso ser-se chamado de demónio para se começar a comportar como um?”. E é verdade, se uma criança cresce a dizerem-lhe uma coisa, seja verdade ou mentira, inevitavelmente ela vai acreditar porque é o que as pessoas mais queridas dela lhe dizem e, a nossa família é o laço mais forte que possuímos até à adolescência, e na mente deles porque que haveria de se mentira o que lhe dizem?
Sem dúvida que a sociedade atual devia fazer uma pausa e refletir sobre estas questões, ou nunca vamos conseguir deste ciclo vicioso. As crianças são ingénuas, mas tudo o que lhes transmitimos se não for bem explicado pode causar muito transtorno no futuro delas e na maneira como crescem. E a verdade é que cada vez mais crescemos rodeados de muita informação através na televisão e das redes sociais. Se essa informação recebida não for filtrada pode vir a ser um problema no futuro das crianças desta era moderna.
Ler este manga é uma “wake up call” para todos os pais e para a sociedade, apesar de ter sido escrito entre 1994 e 1998, as temáticas transcendem o tempo e aplicam-se à atualidade.
Escolhi este manga para integrar o Ecletic Heart 30 Post Challenge sob o tópico “um manga que merece ser mais reconhecido”. Na minha opinião, por ser uma obra publicada nos anos 90 não teve muito reconhecimento e os atuais fãs deste género não se gostam de aventurar a ler obras antigas com gráficos mais pobres. Mesmo assim eu recomendo a sua leitura.
Avaliação - 🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉 (8)
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