Read Christie 2021:”A murder is announced"
- Sofia
- 16 de set. de 2021
- 4 min de leitura
Um livro onde os Classificados são de morrer!

Nome: A murder is announced | Anúncio de um crime
Escritor: Agatha Christie
País: Reino Unido
Ano: 1950
Género: Romance policial
Sinopse:
«Anuncia-se um crime que terá lugar sexta-feira, 29 de Outubro, em Little Paddocks, às 18.30» é um enigmático anúncio publicado no jornal local de Chipping Cleghorn. A pacata aldeia fica em polvorosa e não é para menos. A proprietária de Little Paddocks, Letitia Blacklock, decide entrar na brincadeira e recebe os convidados. As luzes apagam-se e, quando voltam a acender-se, o «assassino secreto» atuou e o corpo da vítima jaz ensanguentado no chão. Mas este jogo mortífero conta com um jogador à altura: Miss Jane Marple.
Crítica
O livro de julho para o Read Christie 2021 Challenge tem como tema “uma história com um vigário”, e a obra escolhida foi Anúncio de um crime. Porém, não é bem o vigário que ajuda na resolução do crime, pois este acaba por estar muito ocupado com os seus sermões e extrema-unções. Na verdade, a estrela da ‘festa’ é a adorada velhinha Miss Marple.
Agatha Christie sempre nos brindou com casos policiais interessantes e misteriosos, e esta obra não sai do padrão.
«Anuncia-se um crime que terá lugar sexta-feira, 29 de Outubro, em Little Paddocks, às 18.30. Amigos, apareçam, será anúncio único.»
É anunciado um crime no jornal local deixando toda a aldeia curiosa. Letitia Blacklock, a proprietária de Little Paddocks, onde o crime deverá ocorrer, decide receber os vizinhos embora não faça ideia de quem colocou o estranho anúncio. É então que o crime acontece deixando todos em alvoroço. Ninguém parece ter visto nada de concreto e a polícia não faz ideia de como resolver o caso. Quando o inspetor Craddock parece estar capaz de desistir, surge Miss Marple, a simpática e perspicaz velhinha, que o ajuda a encontrar o culpado.
São raras as histórias de Christie em que eu descobri o assassino ou como tudo se desenrolou ainda antes de ser revelada a resposta do caso. As obras desta autora têm enredos tão complexos que é difícil não nos perdermos pelo caminho ou sermos enganados pelas pistas que esta vai deixando. Porém, e após a leitura de algumas obras da autora, rapidamente comecei a suspeitar de como o crime poderia ter sido cometido, bem como do culpado. Embora fossem surgindo informações que nos vão desviando a atenção para outras direções, acabei por ter razão nas minhas suspeitas, apesar de continuar completamente às escuras do motivo para o crime ocorrer.
Na minha opinião, apesar da personagem Miss Marple participar um pouco mais na história do que é habitual, continuo a achar que ainda não é suficiente para eu me encantar com esta personagem criada pela rainha do crime. Outro aspeto que achei interessante nesta história é o destaque que a autora dá à polícia e o qual nem sempre acontece nas suas restantes obras.
Christie tem uma escrita que flui e que nos leva a não querer parar de ler. No entanto, devo confessar que não gostei muito das últimas páginas do livro. Após Miss Marple e o Inspector terem explicado como resolveram o caso, a história tomou um rumo de diálogos meio estranhos, que me fez ficar confusa e sem saber se a ação tinha mudado de local ou se já se tinha passado algum tempo após a reunião com o inspector. Mesmo assim, gostei da obra.
Sussuro do Coração
A murder is announced (Anúncio de um crime) foi publicado em 1950 e é o 5º livro a contar com a participação de Miss Marple. É considerado um clássico do género.
Nesta obra somos brindados com muitas personagens diversificadas. Irmãos gémeos, vizinhos bisbilhoteiros, amigas de infância desmioladas, criadas mentirosas e estrangeiras, etc. Ao longo da leitura apercebi-me que a autora colocou muitos elementos que talvez na sua época eram comuns ou bastante abordados e os quais irei enumerar a seguir. Um dos aspetos que reparei novamente nesta obra, é o facto da autora, mais uma vez, usar como local de um crime uma aldeia rural inglesa e descrevê-la como um lugar repleto de intrigas e ciúmes, onde todos parecem conhecer-se. Não sei se é devido a histórias destas, que chegam a ser bastante comuns nos livros policiais, que fazem com que até hoje eu tenha a ideia de que as aldeias inglesas não são o que parecem.
Outro dos aspetos que me chamaram atenção foi o destaque dado aos refugiados de guerra, que na época de Christie deveriam ser bastantes, pois o fim da Segunda Grande Guerra ainda era bastante recente. Na verdade, esse foi um ponto que me intrigou, visto que a autora faz transparecer a ideia através de Mitzi, a criada de Letitia Blacklock, que os refugiados eram vistos como pessoas mentirosas, que gostavam de se vitimizar e que não confiavam na polícia. O que não deixa de ser contraditório, tendo em conta que uma das personagens mais famosas da autora seja efectivamente um refugiado de guerra belga, que busca acima de tudo a verdade dos factos e que trabalha com a Scotland Yard, ou seja, Hercule Poirot. Pergunto-me se Christie não usou Mitzi para chamar atenção do assunto na sua época e para relembrar que, até mesmo as pessoas mentirosas, podem dizer a verdade de vez em quando.
Porém, não são só estes aspetos que são abordados na história e que me chamaram atenção. Temos também Edmund Swettenham e o crescimento das ideias comunistas pelo país, incomodando os Coronéis old-fashion; a desertação de soldados e a vergonha que advinha disso; e ainda com base nas conversas entre Edmund e a sua mãe a ideia de que ser escritor não era um trabalho a sério.
Confesso que gostei imenso do destaque dado pela autora às personagens femininas aparentemente desmioladas ou tontas, tais como Miss Bunny, Miss Murgatroyd e Gorduchinha. Estas foram personagens que se revelaram muito perspicazes mas incapazes de compreender a importância do que realmente viram. Gostei bastante da personagem de Gorduchinha, uma mulher que admite ter uma personalidade infantil e tonta, mas que, a meu ver, revelou-se muito mais inteligente do que algumas personagens mais sérias. Christie acaba por demonstrar desta forma a importância que cada um de nós tem independentemente da nossa perspicácia e inteligência.
E, para terminar, deixem-me apenas desabafar o quanto, na minha opinião, a amizade de Miss Murgatroyd e Miss Hinchliffe, duas amigas que vivem num chalé, poderiam levantar suspeitas e rumores caso o livro fosse escrito nos tempos atuais. Porém, duvido que fosse essa a ideia de Christie quando as criou.
Avaliação - 🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉 (7)
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