Jane Eyre
- Sofia
- 3 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de mar. de 2021
A obra que ‘emancipou’ a mulher do século XIX.

Nome: Jane Eyre
Escritor: Charlotte Brontë
País: Reino Unido
Ano: 1847
Género: Romance
Sinopse:
Jane Eyre é a autobiografia ficcionada de uma jovem que, depois de uma infância e adolescência desprovidas de afeto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr. Rochester. Porém, algo inesperado poderá vir assombrar a sua felicidade.
Crítica
Jane Eyre é um romance dramático mas delicioso, uma obra que me surpreendeu e que me deu muito prazer ler.
A história é sobre uma jovem de espírito puro e apaixonado que, ao longo da trama, vai travando uma luta interior entre o que é melhor para os outros e o que é certo para si própria. Narrada na primeira pessoa, vamos conhecendo a infância, adolescência e vida adulta de Jane Eyre.
As personagens de Charlotte Brontë são complexas e muito interessantes. Gostei bastante de todas elas, em especial de Helen Burns, Miss Temple e Mr. Rochester. Todas as personagens, que vão passando pela vida de Jane, ensinam-lhe algo mas, na minha humilde opinião, duas das mais importantes são Helen Burns e Miss Temple. Elas ajudam a 'construir' a Jane que vai viver para Thornfield Hall, a Jane que aprende a ser mais branda perante os erros e defeitos dos outros, a ser mais misericordiosa e menos rancorosa com quem a magoou. Também adorei a relação entre Mr. Rochester e Jane Eyre, das suas conversas à lareira. Contudo, o que realmente me encantou foi o facto de Charlotte Brontë criar personagens falíveis e evidenciar isso ao longo de toda a obra. Todas as personagens têm os seus defeitos e qualidades. Mr. Rochester, por exemplo, não é um herói romântico. É a desgraça total! A autora desproveu-o de beleza e, no seu lugar, deu-lhe uma personalidade instável e excêntrica, transformando-o numa alma perdida. E ainda assim, ele consegue ser uma personagem deliciosa, um homem digno de ser amado por Jane e pelo leitor.
Quanto a Jane, fiquei admirada e, por vezes, confusa com a sua maneira de ser. Jane Eyre é uma mulher forte, justa, carinhosa e apaixonada mas não é dada a sentimentalismos. Ao longo de todo o romance, reparei que, ao contrário de outras leituras deste género, a protagonista não se desfaz em lamúrias ou em declarações apaixonadas, apesar de ela ser a narradora da história. Ela é uma personagem apaixonada, mas racional e prática que conhece o seu valor e cujo o mais importante é estar de consciência limpa e ser fiel a si mesma, nem que para isso tenha de perder ou magoar quem ama.
Gostei muito da escrita de Charlotte Brontë, pelo facto de ser fluída e cheia de referências poéticas e bíblicas inseridas na história de modo inteligente. Porém, houve momentos em que me aborreci um pouco com tantos pormenores. Ainda assim, achei a sua escrita rica e calorosa.
A narrativa termina com uma explicação sobre o que acontece a cada uma das personagens que foram surgindo na vida de Jane. Isso foi um pormenor do qual gostei bastante. E toda a atmosfera de suspense e mistério em torno de Thornfield Hall é absolutamente fantástica! Não só deixa-nos a pensar como dá mais um incentivo para continuar a leitura.
Sussurro do Coração
Charlotte Brontë escreveu muitos romances mas Jane Eyre é o mais famoso. Embora atualmente seja considerada uma obra-prima da literatura inglesa, em 1847, data da sua primeira publicação, foi vista como uma ameaça aos valores cristãos, incentivando à insubordinação. Creio que isso se deve às várias críticas sociais feitas pela autora que envolvem a condição da mulher na época vitoriana. Através de Jane Eyre, Charlotte conseguiu demonstrar que as mulheres eram capazes de trabalhar e ter uma vida, independentemente de serem casadas ou não.
No entanto, tenho de confessar que o que me ficou retido na memória quando cheguei ao fim da obra foi a importância de sermos fiéis a nós mesmos e de como as pessoas que vão passando pela nossa vida conseguem moldar-nos sem nos apercebermos disso. Temos esse exemplo através de Helen Burns e Miss Temple na vida de Jane. Por meio dessas personagens, um dos pontos que é 'discutido' na primeira parte da obra é se devemos deixar a raiva tomar conta de nós ou se devemos perdoar a quem nos fez mal, de forma a não deixar que essa raiva crie raízes no nosso coração.
Também adorei o ambiente gótico inserido na narrativa através do mistério que envolve Thornfield Hall e dos acontecimentos trágicos que vão surgindo na história.
Em suma, Jane Eyre é um clássico maravilhoso que tem de tudo um pouco: drama, romance, suspense, e que nos lembra que amar verdadeiramente alguém não é só amar as suas qualidades, mas principalmente os seus defeitos.
Escolhi-o para o tópico “Livro de romance” do Ecletic Heart 30 Post Challenge.
Avaliação - 🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉 (9)
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