Read Christie 2021: Sparkling Cyanide
- Sofia
- 2 de abr. de 2021
- 5 min de leitura
Façam o favor de levantar o vosso copo e brindar…. à lembrança!

Nome: Sparkling Cyanide | Um brinde à morte
Escritor: Agatha Christie
País: Reino Unido
Ano: 1944
Género: Crime, mistério, romance policial.
Sinopse:
Seis pessoas sentam-se numa mesa posta para sete no restaurante Luxembourg. Em frente ao lugar vazio está um ramo de rosmaninho, em homenagem a Rosemary Barton, que morreu nessa mesma mesa há exatamente um ano atrás. Um sentimento estranho paira no ar, tendo em conta que ninguém esquecerá tão cedo aquela noite e a agonia de que foram testemunhas: o belo rosto de Rosemary contorcido em espasmos, irreconhecível. Mas Rosemary era uma mulher impossível de esquecer. Ela tinha a capacidade de despertar fortes paixões entre as pessoas que conhecia. Paixões essas que poderão ter ditado a sua morte…
Crítica
Terceiro mês de Read Christie 2021 Challenge. Terceiro livro de Agatha Christie. Sparkling Cyanide (Um brinde à morte) foi a minha escolha para o tópico deste mês de março: a story starring a society figure (uma história estrelada por uma figura da sociedade). Porém, desde já tenho de confessar que esta obra ficou aquém das minhas expectativas.
Ao contrário do que é habitual em outras obras da autora, Christie apresenta-nos logo de início os seis suspeitos e o motivo que cada um deles poderá ter para assassinar Rosemary Barton, uma mulher irreverente e deslumbrante. São eles: George Barton, o marido de Rosemary; Iris Marle, a irmã mais nova da vítima; Ruth Lessing, a eficiente e fria secretária de George; Anthony Browne, o espirituoso amigo de Rosemary; e os Farradays, um casal frio e calculista, conhecido de Rosemary. A partir daí, o leitor passa a ser o detetive de serviço juntamente com o Coronel Race e o inspetor Kemp da Scotland Yard. Confesso que gostei imenso desta parte. Adoro quando a autora nos convida a entrar na história e a tentar adivinhar quem é o culpado!
Cada uma das personagens da história vai sendo apresentada gradualmente e de forma bem precisa, de modo a não deixar qualquer dúvida ao leitor de quem é quem. Habitualmente não tenho qualquer problema com as personagens criadas por Christie, mas desta vez tenho de admitir que Lucilla Drake, a tia das irmãs Marle, deu-me nos nervos devido à sua tagarelice. Na verdade, chegou a ser deveras cansativa! Por outro lado, gostei imenso de Anthony Browne e da sua personalidade misteriosa.
Tal como já é habitual, a escrita da autora é fluída e envolvente, mas desta vez tive dificuldade em entrar na história e só o consegui fazer mais para o final da obra. Embora Christie não tenha o hábito de engonhar nas suas histórias, a sensação que tive neste livro foi que a narrativa foi se arrastando, até ao momento em que um novo e importante acontecimento sucede, dando assim um novo avanço à história. No entanto, acho que isso talvez se deva ao facto de, originalmente, este ser um conto que, mais tarde, foi reescrito pela própria autora e transformado em romance policial.
São colocadas questões, cada um dos “investigadores” tem o seu suspeito favorito e, de repente,... bam! O caso é resolvido. Para ser sincera, não sei bem o que pensar do final desta obra. Na minha opinião, pareceu-me pouco convincente, e há um aspeto referente a uma das personagens da história (o qual não irei mencionar pois seria spoiler) que nem sequer é bem explicado.
Porém, apesar de não ter sido uma das minhas histórias prediletas, procurei tentar adivinhar quem era o culpado durante a leitura, tendo acertado parcialmente neste, e estando absolutamente correta quanto ao motivo do crime. Ainda assim, foi uma obra que não ‘me encheu as medidas’.
Sussurro do Coração
Sparkling Cyanide foi originalmente publicado nos Estados Unidos sob o título Remembered Death em 1945. Tal como já referi, a história começou por ser um conto, Yellow Iris, e tinha o detetive Hercule Poirot. Porém, Agatha Christie decidiu reescrever mais tarde a história substituindo o detetive do little moustache pelo Coronel Johnny Race, bem como a identidade do culpado. Esta obra foi adaptada à televisão duas vezes, em 1983 e em 2003.
Tal como noutras obras, a autora demonstra bem o quanto conhece a natureza humana, ou pelo menos o quanto é observadora desta. Ao longo da obra, Christie vai demonstrando que as pessoas nem sempre são o que aparentam ser, tal como acontece com Anthony Browne, nem tão frias e sem sentimentos como querem parecer, tal como Sandra Farraday e Ruth Lessing assim o demonstram.
Também achei interessante o facto da autora referir através das suas personagens femininas o quanto a intuição feminina é apurada, bem como o facto dos homens serem seres visuais, facilmente atraídos pela beleza, como assim o prova a personagem de Rosemary, mas que, quando se trata de encontrar a pessoa com quem irão passar o resto da vida, dão mais valor ao carácter e à inteligência, como é possível observar na personagem de Stephen que admira e elogia o temperamento e a inteligência da sua esposa Sandra.
Sparkling Cyanide não fica como uma das minhas obras de eleição, mas isso não significa que as suas personagens não nos passem ensinamentos, ou não nos façam pensar na nossa própria vida.
Muitas vezes só damos valor quando nos apercebemos que perdemos ou podemos vir a perder quem nos é mais querido. Christie sabia também disto e assim o expressou com o casal Farraday, nomeadamente com Stephen.
Porém, também é sabido que quanto mais tentamos fugir de alguma coisa, ou nos achamos imunes às influências externas, mais depressa somos seduzidos por elas. Isso é absolutamente correto quando se trata de amor. Se não acreditam, perguntem à Ruth Lessing.
Agatha já muitas vezes levantou o tema da maternidade e a importância disso não nos cegar quando se trata de ver a verdadeira natureza dos próprios filhos. E nesta obra isso volta acontecer com a tagarela e doce Lucilla Drake, que não consegue enxergar a malvadez do seu filho Victor.
São vários os aspetos apontados pela autora através das suas personagens, ainda que não seja de forma marcante. Termino com uma citação que me fez pensar.
“As pessoas felizes são fracassadas porque estão tão bem consigo mesmas que não querem saber.” (Anthony Browne, Sparkling Cyanide)
Quando as pessoas são felizes não procuram a fama ou o sucesso da mesma maneira que as pessoas infelizes. Apenas se concentram nos seus objetivos e em atingi-los para si próprias. Já as pessoas infelizes, sentem sempre a necessidade da aprovação externa, e estão tão preocupadas com isso, que não se importam de prejudicar os outros se assim tiver de ser. A inveja e o ciúme tomam conta delas, pois o outro tem aquilo que elas anseiam alcançar. Não é assim?
E você, é uma pessoa feliz?
Avaliação - 🟉🟉🟉🟉🟉 (5)
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