Save me
- Catarina
- 3 de fev. de 2021
- 5 min de leitura
Até que ponto a nossa fé nos pode levar?

Nome: 구해줘 (Goohaejwoe) | Save Me
País: Coreia do Sul
Ano: 2017 e 2019
Estado: Completa
Episódios: 32 (2 Temporadas)
Duração: 60 min
Género: Thriller, Mistério, Psicológico
Sinopse:
Duas temporadas, duas histórias. Na primeira temporada acompanhamos a história de Im Sang Mi que acaba de se mudar para Miju-gun devido ao fracasso do negócio do pai. Devido a uma adaptação muito penosa, a sua família enfrenta vários problemas até que Baek Jung Ki, um pastor da Igreja de Goosunwo, aparece e oferece-lhes ajuda. Mas nem tudo é o que parece, a Igreja de Goosunwo é na realidade um culto religioso. Na segunda temporada acompanhamos a vida dos moradores de Wolchoori que devido à construção de uma nova barragem vão ver a aldeia ficar submersa. Um processo atribulado até que Choi Gyung Seok aparece para ajudá-los a terem uma compensação para conseguirem começar as suas vidas num outro local. Sem saberem que na realidade ele é um vigarista procurado pela polícia e a sua verdadeira intenção era roubar-lhes o dinheiro.
Crítica
Antes de começar a análise desta obra tenho de explicar que a religião para mim nunca foi algo que acompanhou a minha vida. Por outras palavras, não me considero religiosa, nem que siga os ensinamentos de alguma religião em particular. Sendo assim podem me considerar agnóstica.
Estas duas histórias apesar de serem completamente distintas acabam por estar unidas pela crença obstinada na religião, as consequências agregadas a esta fé que levam à exploração da ingenuidade e fanatismo destas pessoas.
Começando por falar da primeira temporada: Sang Mi chega a Miju-gun com a sua família à procura de uma mudança de vida, mas a busca pela sua felicidade é travada por uma trágica morte; ela é uma guerreira com um enorme sentido de justiça e devoção pela sua família e pessoas que ama.
O seu fatídico destino altera quando se cruza com um grupo de quatro amigos: Han Sang Hwan, estudante de direito e o único filho do governador da cidade de Miju-gun, que vive na sombra da corrupção do pai e por não ter ajudado o seu melhor amigo quando ele mais precisou; Seok Dong Chul, que acaba de sair da prisão, cresceu com a sua avó e sempre foi considerado como uma má influência para os amigos apesar de no fundo ser um bom miúdo; Woo Jung Hoon, filho do chefe da polícia da cidade; e Choi Man Hee, apesar da sua aparência de grandalhão, é um rapaz muito querido e carinhoso.
Os quatro amigos vão juntar-se para salvar a Sang Mi e ajudá-la secretamente a conseguir ver-se livre do culto religioso da Igreja de Goosunwo.
A segunda temporada acompanha a história dos moradores da aldeia de Wolchoori e Kim Min Chul, que acaba de sair da prisão e é o primeiro a perceber que Choi Gyung Seok é uma fraude. Apesar do seu passado violento e errante, ele é um rapaz que cuida do próximo e das pessoas que o viram crescer, mas não escolhe a melhor forma de o fazer e acaba por ser mal interpretado por todos os que o rodeiam.
Apesar de descobrir que Choi Gyung Seok é um vigarista e uma pessoa violenta, ninguém acredita nele e vê-se rejeitado pela própria família.
O conflito principal de ambas as histórias desenrola-se a partir do princípio de desvendar os crimes que estão a ser cometidos pelos cultos religiosos e pelos seus líderes, ao mesmo tempo que tentam salvar as pessoas que estão a ser enganadas e vítimas destes esquemas.
Nunca uma obra mexeu tanto comigo e me revoltou como estas duas histórias, desde o desenrolar da história ao desvendar dos crimes por detrás destas organizações, aos crimes hediondos cometidos e as personagens com personalidades desprezíveis. Sentia-me a roer por dentro à medida que a história avançava e sofria tanto como as personagens.
Sem dúvida que a forma como a história está criada, assim como a construção destas personagens é algo que se destaca e está muito bem conseguido, pois ninguém que assiste conseguirá ficar indiferente. E, não posso deixar de acrescentar, que o elenco escolhido e a forma como os atores desempenharam os seus papéis é de louvar e aplaudir de pé.
Outro dos aspetos positivos a salientar é a edição de som e a banda sonora, que têm um grande contributo para deixar o espectador com o coração nas mãos à espera do que vem aí ou do que vai aparecer à nossa frente.
Uma das coisas que me estava a deixar apreensiva à medida que os episódios iam avançando era como é que o autor ía terminar esta espiral de acontecimentos? Qual seria o desfecho final? Julgo que o autor não desiludiu com o seu final pragmático e sensato. Nenhuma personagem sai indiferente, levando na sua bagagem as dores do seu passado atrás, semelhante ao que acontece na vida real.
Sussurro do Coração
Ao longo da obra fui-me questionando até que ponto a crueldade do ser humano consegue ir e comecei a olhar com outros olhos para tudo que me rodeia.
Estas duas histórias são uma mina de ouro a nível de temáticas: religião, corrupção, bullying, violência doméstica, direitos humanos, entre outros.
Outro aspeto abordado que me deixou perplexa é o fanatismo religioso. Primeiro, como é que se consegue acreditar cegamente em algo que não se vê? De forma a seguir meticulosamente tudo o que supostamente é dito e imposto. Respeito as pessoas que seguem as ideologias de alguma religião como sua escolha, mas isso não se pode sobrepor aos valores de ética e moral, assim como os Direitos Humanos. Isso é algo em que nenhuma religião deveria pisar essa linha. Daí surgir o fanatismo religioso, já que as pessoas ficam cegas e deixam de conseguir discernir o certo do errado.
Outro tema que me tocou foi a dubiedade entre laços familiares e laços de amizade: até que ponto é que a família é realmente o mais importante e protegê-la é o mais correto independentemente do que possam fazer? Na minha opinião, a família é algo que nós não escolhemos e infelizmente não podemos controlar se vão ser humanos afáveis ou uns trastes impiedosos. Sem dúvida que há laços de amizade mais importantes que sangue partilhado.
Para terminar, preciso referir mais um tópico abordado em ambas as temporadas: a sociedade atual e a reinserção social dos ex-presidiários. Seok Dong Chul e Kim Min Chul foram duas vítimas do sistema em que a nossa sociedade vive, rodeados de aparências e sem respeito pelo próximo. Todos nós temos conhecimento de pessoas com o mesmo background deles e se lhes tivessem dado a mão em vez de apontar o dedo, o seu percurso poderia ter sido diferente. Ambos foram criados num ambiente familiar distorcido e todas as pessoas em redor decidiram fechar os olhos em vez de mudar. E o que acontece? Uma desgraça acontece que acaba por condenar a vida destes jovens.
Para piorar a situação, quando saem e tentam ultrapassar o seu passado, as pessoas só olham para o que eles fizeram e não para quem eles são atualmente. Isto forma uma espiral interminável em que não há solução. Porque a solução estava na prevenção para que esta situação não acontecesse.
Aconselho todos a verem este drama e tenho a certeza que irão ficar tão transtornados como eu a ver algumas das coisas que acontecem no desenrolar das histórias. Sem dúvida que é uma obra que aborda diversas questões éticas e problemas na nossa sociedade.
Para terminar deixo-vos com o seguinte excerto de Sang Mi:
“A ilusão de que ele ascendeu aos céus e não morreu é assustadora. Porque no fundo a raiz do mal foi cortada, mas o vento já tinha espalhado as suas sementes.”
Escolhi este drama asiático para integrar o Ecletic Heart 30 Post Challenge sob o tema “um drama que ninguém viu, mas deviam ver”. Visto que este drama foi exibido por um canal privado (pago) da Coreia do Sul, acabou por ter pouca audiência. E, como não é uma comédia romântica, poucas pessoas viram Contudo, sem dúvida que é uma história tocante que todos deveriam ver para aprender alguns dos princípios básicos de ser um ser humano.
Avaliação - 🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉🟉 (10)
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